O engenheiro é responsável por projetar e executar as obras que sustentam a vida em sociedade: pontes, estradas, prédios, saneamento, energia. Apesar da relevância, a profissão sofre com um processo contínuo de desvalorização, que se reflete nos salários iniciais, na queda do interesse dos jovens e até na qualidade dos serviços públicos.
A Lei 4.950-A/1966 estabeleceu um piso profissional claro: 8,5 salários-mínimos para 40h semanais. Em 2025, isso significa R$ 12.903,00. Mas esse número, que deveria ser uma garantia mínima, tornou-se exceção.
Nos últimos dez anos, o país assistiu a um movimento preocupante:
Esse último caso motivou a atuação firme do SENGE-GO e da AGEAMB, que acionaram formalmente o CREA-GO para denunciar a desvalorização, exigindo fiscalização e impugnação do edital de Rialma. O sindicato enfatizou que não se pode admitir que profissionais com anos de formação e responsabilidade técnica recebam salários inferiores aos de muitos cargos de nível médio.
Esses valores representam menos de 40% do piso legal. Na prática, muitos engenheiros municipais goianos recebem salários que ignoram a Lei 4.950-A/1966, configurando um contrassenso frente à complexidade e responsabilidade do trabalho.
Enquanto isso, em concursos federais, como o DNIT, engenheiros ingressam com vencimentos de cerca de R$ 12.800,00 a R$ 13.600,00, um patamar mais próximo do que a lei garante.
Por que essa desvalorização é perigosa?
O papel das instituições
CREA-GO : tem obrigação legal de fiscalizar o cumprimento da lei, inclusive impugnando editais que desrespeitem o piso. Casos como o de Rialma reforçam a urgência de uma atuação mais proativa.
SENGE-GO : atua como representante sindical, ajuizando ações coletivas e defendendo a categoria, além de pressionar publicamente contra editais que ferem a valorização da engenharia.
Sociedade : deve compreender que pagar bem o engenheiro não é luxo, mas investimento em segurança e qualidade para todos.
Conclusão
A pergunta que dá título a este editorial é também um alerta: o que vai ser do Brasil com a desvalorização da engenharia?
Sem profissionais qualificados e motivados, o país corre o risco de comprometer seu desenvolvimento, perpetuar obras mal feitas e desestimular gerações futuras de engenheiros.
Em Goiás, a situação é emblemática: salários entre R$ 2 mil e R$ 4,7 mil para engenheiros de prefeituras contrastam com o piso legal de R$ 12.903,00. O caso de Rialma, levado pelo SENGE-GO ao CREA-GO, mostra que a luta institucional precisa ser constante para reverter esse quadro.
Enquanto houver esse distanciamento entre lei e prática, a engenharia brasileira seguirá em crise. E um país sem engenheiros valorizados é um país sem futuro bem construído.
Fabrício Ribeiro. Diretor de Comunicação do SENGE-Go; Engenheiro Civil; Engenheiro na Saneago, Professor de Pós-graduação no IPOG e Perito Judicial no TJGO.